quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O jornal

Na primeira metade do século XVI, já circulavam nas grandes cidades da Europa noticiários e boletins de caráter político e econômico; eram os chamados livros de notícias (Londres, 1513, The Treve Encountre).
O Aviso-Relation oder Zeitung, semanário publicado em Estrasburgo e em Augusta, em 1609, é considerado o primeiro jornal, no sentido atual da palavra.
A terceira década do século XIX viu a tecnologia da impressão rápida e a idéia básica de um jornal combinarem-se no primeiro verdadeiro veículo de comunicação de massa.
“No final do século XIX, estava ficando claro para os pioneiros e cientistas sociais de então que os novos veículos de massa – jornais, livros e revistas, todos os quais amplamente utilizados na sociedade -, estavam trazendo importantes mudanças para a condição humana” (BELTRÃO).
O sociólogo norte-americano Charles Horton Cooley, em 1909, declarou haver quatro fatores que tornavam os novos veículos bem mais eficientes do que os processos de comunicação de qualquer sociedade anterior: os novos meios eram mais eficazes em termos de: expressividade (por incluírem uma ampla gama de idéias e sentimentos), permanência do registro (ou a superação do passar do tempo), presteza (ou a superação do espaço/distância) e difusão (ou acesso a todas as espécies de homens).
No século XVIII os jornais passam a fazer parte do cotidiano das pessoas. O leitor passou a ser a população e não mais um círculo fechado de eruditos. A comunicação passa de um processo de produção artesanal para ser produto da industrialização.
Nascem jornais como o Mercure Galant (jornal francês, 1672), dirigido a um público de baixa escolaridade, principalmente às mulheres. Dava notícias da corte e da cidade, falava de moda e decoração, leitores enviavam versos. O jornal publicava ainda elogios sobre as ações de Luís XIV e seu exército, o que rendia ao editor uma pensão do governo. Ou jornais como o The Spectator (jornal inglês, 1711), que tinha como marca a independência em relação a partidos políticos. Sua fórmula foi disseminada em jornais na Inglaterra, França, Holanda, Alemanha, Itália, Espanha etc.
A Grã-Bretanha é o berço dos primeiros jornais diários. Isso só é possível devido à instalação de um serviço regular e diário de Correio entre Dover e Londres, em 1691. Surgem Daily Courant (1702), Daily Post (1719), Daily Journal (1720), Daily Advertiser (1730). Com as publicações cotidianas, notícias irrelevantes dão lugar às primeiras manifestações concretas do jornalismo político.
Eis alguns efeitos do aparecimento do jornal: os críticos se queixavam de que jornais traziam à luz o que deveria ser mantido em segredo. Já os admiradores, diziam que os jornais abriam a mente das pessoas. Chegou-se a creditas aos jornais o aumento do índice de suicídios na Inglaterra do século XVIII porque os jornais publicavam cartas de suicidas. Isso dava a impressão de que o suicídio era algo comum. Leitores viam o fato do ponto de vista de quem o comete. As pessoas começaram a desenvolver um certo ceticismo diante do que liam. Isso porque havia discrepâncias de um mesmo relato em diferentes jornais, gerando desconfiança nas pessoas.
Os jornais contribuem para o aparecimento da “opinião pública”. O termo tem seu primeiro registro “em francês, por volta de 1750; em inglês, em 1781; e em alemão, em 1783.”
No século XVIII surge na sociedade uma arena de debates, com argumentação crítica e racional.
Em 1814, na Inglaterra, foi patenteada a primeira prensa a vapor por Frederik Koening, instalada na sede do The Times. Economizava mão-de-obra e imprimia mil exemplares por hora. O jornal podia ser impresso mais tarde e publicar notícias mais “fresquinhas”.
O jornal Post och Inrikes Tidningar, de 1645, Suécia, era o mais antigo do mundo em circulação até 2007, quando passou a ser on line.
O telégrafo surge em 1792, para uso militar. O telefone, em 1871. As agências de notícias passam a fazer parte das redações dos jornais, encarecendo, portanto, a produção de notícias. Com custos em alta, os jornais já não se bancavam apenas com as vendas. Nesse contexto, surge a publicidade, registrada primeiramente na Itália, em 1876, no jornal Il Secolo Gazeta de Milano, que insere anúncios econômicos em sua quarta página. Os jornais viram empresas, estabelecendo ligação entre a informação e a publicidade.


O jornal no Brasil
O primeiro jornal brasileiro não era impresso no Brasil. Em junho de 1808, Hipólito da Costa funda o Correio Braziliense (ou Armazém Literário). Era impresso em Londres e dirigido aos leitores do Brasil. Em tempos de educação escassa e difusão das idéias do Iluminismo, o jornalista era considerado educador. O Correio Braziliense era mensal, tinha 100 páginas, formato e aspecto de livro, trazia longos artigos, falava sobre política, comércio, artes, literatura e ciência. Publicava documentos sobre fatos do exterior, como a derrota de Napoleão (Batalha de Waterloo, 1815). Influenciou na Independência do Brasil. Chegava ao Brasil por vias normais e em 1809 foi proibido pelo governo e passou a circular pelas províncias clandestinamente. Tinha idéias liberais, era favorável ao fim do trabalho escravo, à liberdade de opinião, pregava reformas modernizadoras. Por tudo isso, incomodava as autoridades políticas portuguesas. O jornal resistiu até 1822, quando, com a Independência do Brasil, deixou de circular, porque Hipólito acreditava que a imprensa se desenvolveria naturalmente, tornando o seu jornal menos necessário à população.
Em 10 de setembro de 1808, a Impressão Régia imprime a Gazeta do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, 60 000 habitantes), o primeiro jornal impresso no Brasil, redigido por frei Tibúrcio José da Rocha. O jornal era semanal, chapa branca, estava muito próximo ao poder e era bajulador. Informa sobre a vida administrativa e social do reino e, de vez em quando, publica notícias do exterior com meses de atraso. Circulou até 1821.
Algumas “fases” da imprensa: imprensa operária, imprensa negra, imprensa alternativa.

Curiosidades
O Diário de Pernambuco, de 1825, é o jornal mais antigo do Brasil ainda em circulação.
O Patriota, de1811, foi a primeira revista brasileira.
A Revista Ferroviária, de 1940, é a mais antiga do Brasil.

Algumas revistas brasileiras
Fon-Fon - 1907-1958 – cotidiano Rio de Janeiro (Gonzaga Duque, escritor)
Careta – 1908-1960 – revista de humor; fundada por chargista Jorge Schmidt
O Cruzeiro – 1928-1975 (Assis Chateaubriand) – grandes reportagens, dupla repórter-fotógrafo
Veja – 1968 (Mino Carta)

Um dos primeiros anúncios
“Quem quiser comprar uma morada de casas de sobrado, com frente para Santa Rita, fale com Ana Joaquina da Silva, que mora nas mesmas casas ou com o Capitão Francisco Pereira de Mesquita, que tem ordem para vender.”


Referências bibliográficas
LUSTOSA, Isabel. O Nascimento da Imprensa no Brasil.
SODRÉ, Nelson Wernek. História da Imprensa no Brasil
ROMANCINI, Richard e LAGO, Cláudia. História do Jornalismo no Brasil. Ed. Insular
MELO, José Marques de (ORG.). Imprensa Brasileira: Personagens que Fizeram História – Vol. 1. Imprensa Oficial

BELTRÃO, Luiz e QUIRINO, Newton de Oliveira. Subsídios para uma teoria da comunicação de massa. São Paulo: Summus, 1986. P. 21 a 24.
BORDENAVE, Juan Díaz. O que é comunicação. S. Paulo: Brasiliense, 2002 (27a. ed.). P. 12 a 29 e 35 a 41.
GIOVANNINI, Giovani. Evolução na comunicação. Rio: Nova Fronteira, 1984. P. 23 a 83.
LIMA, Venicio A. de. Mídia – Teoria e política. S. Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004.
BRIGGS, Asa e BURKE, Peter. Uma história social da mídia. – De Gutenberg à Internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.

Um comentário:

  1. Eu adicionaria entre os jornais brasileiros o "Correio Paulistano" fundado em 1854, extinto em 1963 e reativado por aproveitadores (opinião minha) em 2005.

    Este jornal foi tão importante que o papel jornal por muito tempo foi conhecido como "papel CP" em alusão ao tipo de papel utilizado por este jornal.

    Um de seus redatores foi Menotti del Picchia.

    O jornal CP foi fundado pelo ilustre Joaquim Roberto de Azevedo Marques, hoje esquecido por muitos cujo tumulo estava abandonado no cemitério da Consolação, hoje eu cuido deste mausóleu .

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